terça-feira, 25 de novembro de 2008

Testa os teus conhecimentos sobre o «Sermão de Santo António aos Peixes», do padre António Vieira, através deste exercício realizado em Excel.
Vai respondendo às perguntas de acordo com as instruções e, no final, observa que resultados obtiveste e quais os teus pontos mais fortes e mais fracos.

Podes resolver um questionário sobre as características do período barroco e o «Sermão de Santo António aos Peixes», do padre António Vieira, através desta ligação.


O «Sermão de Santo António aos Peixes» em podcast, para ouvir em MP3.
Carrega nos símbolos para ouvir ou descarregar os ficheiros (botão da direita do rato e escolher a opção Guardar destino como).


Capítulo 1 do «Sermão de Santo António aos Peixes» - perguntas e respostas.

Capítulo 2 do «Sermão de Santo António aos Peixes» - perguntas e respostas.

Capítulo 3 do «Sermão de Santo António aos Peixes» - perguntas e respostas.

Imagem do filme de Manuel de Oliveira «Palavra e Utopia», em que se pode observar o púlpito de onde se pregava à congregação.


Capítulo 5 do «Sermão de Santo António aos Peixes» - perguntas e respostas.

Capítulo 6 do «Sermão de Santo António aos Peixes» - perguntas e respostas.

Estrutura do «Sermão de Santo António aos Peixes».

Análise geral e progressão do «Sermão de Santo António aos Peixes».


O barroco em podcast, para ouvir em MP3.
Carrega nos símbolos para ouvir ou descarregar os ficheiros.



O Barroco na arquitectura, na pintura e na arte em geral.

O Barroco na literatura.

O sermão no século XVII.

Interior da Igreja de S. Roque, em Lisboa. Note-se o púlpito, à esquerda, a meio da parede, numa posição elevada, de onde se pregava à congregação.


A acção da palavra.

Padre António Vieira.

O ideal missionário em Padre António Vieira.

Os jesuítas e a sua acção no século XVII.

Nota: Seguir-se-ão ficheiros sobre o «Sermão de Santo António aos Peixes».

Bach
- Músico do período barroco que se distinguiu pela forma particular de interpretar o órgão e pela introdução da voz feminina na Igreja.

Conceptismo
- Complexo jogo de conceitos, ou seja, de ideias apresentadas com grande subtileza, com recurso a metáforas, paralelismos, jogos de palavras, alegorias e antíteses.

Cultismo
- Processo característico da literatura barroca que consiste no uso de construções sintácticas e jogos de palavras, numa exibição de virtuosismo retórico, de forma a impressionar o leitor.

Deleite
- Sinónimo de prazer aquando da leitura (era o que buscavam os poetas barrocos).

Efemeridade da vida humana
- Tema recorrente da poesia barroca.

Fénix Renascida ou Obras dos Melhores Engenhos Portugueses
- Cancioneiro seiscentista, editado em cinco volumes, compilada por Matias Pereira da Silva.

Galhofeira (atitude)
- Posição trocista face a aspectos diversos do quotidiano.

Imagem
- Elementos a partir dos quais é construído o poema e alvo de especial atenção antes do estudo do poema “À fragilidade da vida humana”.


À fragilidade da vida humana
Esse baixel nas praias derrotado
Foi nas ondas narciso presumido;
Esse farol nos céus escurecido
Foi do monte libré, gala do prado.

Esse nácar em cinzas desatado
Foi vistoso pavão de Abril florido;
Esse Estio em vesúvios incendido
Foi zéfiro suave, em doce agrado.

Se a nau, o Sol, a rosa, a Primavera
Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago,

Olha, cego mortal, e considera
Que é rosa, Primavera, Sol, baixel,
Para ser cinza, eclipse, incêndio, estrago.

Francisco de Vasconcelos in Fénix Renascida


José Merengelo de Osan
- Nome da pessoa que compilou o Postilhão de Apolo.

Morte
- Realidade suavizada pela palavra “repousa” no poema “À morte de F.” (eufemismo).


À morte de F.
Esse jasmim, que arminhos desacata,
Essa aurora, que nácares aviva,
Essa fonte, que aljôfares deriva,
Essa rosa, que púrpuras desata;

Troca em cinza voraz lustrosa prata,
Brota em pranto cruel púrpura viva,
Profana em turvo pez prata nativa,
Muda em luto infeliz tersa escarlata.

Jasmim na alvura foi, na luz Aurora,
Fonte na graça, rosa no atributo,
Essa heróica deidade que em luz repousa.

Porém fora melhor que assim não fora,
Pois a ser cinza, pranto, barro e luto,
Nasceu jasmim, aurora, fonte, rosa.

Francisco de Vasconcelos in Fénix Renascida



Nácar
- Camada interna da concha; por vezes, aparece com o significado de «rosa».

Ornamentação
- Sinónimo de excesso de decoração, característica típica do discurso barroco.

Postilhão de Apolo
- Cancioneiro seiscentista, publicado em dois volumes, compilado por José Merengelo de Osan.

Quotidiano (sátira)
- A poesia barroca critica ou zomba de determinados aspectos do dia–a-dia.

Retórica
- Nome pelo qual o uso das figuras de estilo é também conhecido (a arte de usá-las).

Sinonímia
- Palavras que têm um significado semelhante. Ex: baixel/nau e farol/sol (Existente no poema barroco “À fragilidade da vida humana”).

Tempo
- Um dos temas principais da poesia barroca (a passagem do tempo).

Usos e Costumes (crítica)
- A poesia barroca, e sobretudo a narrativa, para além de abordar temas profundos também critica a sociedade do seu tempo.

Visualismo
- Característica do barroco realçada por formas verbais como “Olha”, no soneto “À fragilidade da vida humana”:

XVII
- Século por excelência do período barroco.

ALGUMAS FIGURAS DE ESTILO OU DE RETÓRICA

Alegoria
- É a corporização de uma realidade abstracta, normalmente conseguida a partir de um jogo de comparações, imagens e metáforas. A literatura portuguesa tem recorrido à alegoria em todas as épocas. São disso exemplo as figuras de Roma e do Tempo, no Auto da Feira, de Gil Vicente; a figura do polvo, no Sermão de Santo António aos Peixes, do padre António Vieira;

Anáfora
– Repetição de palavra ou expressão em início de período, frase ou verso.

Ex: “Quantos, correndo (...) quantos, embarcados (...) Quantos, navegando (...)” (Cap.III, Sermão de Santo António aos Peixes) “Louvai a Deus, (...) louvai a Deus (...)” (Cap. VI, Sermão de Santo António aos Peixes)

Antítese
– Figura que põe, lado a lado, palavras ou ideias, antagónicas.

Ex: Céu/ Terra; Bem/ Mal; Céu/ Inferno; Dia/ Noite; Homens/ Peixes.

Apóstrofe
– Interrupção do discurso para interpelar pessoas presentes ou invocar, sob forma exclamativa, pessoas ausentes, mortas, entes fantásticos ou coisas inanimadas.

Ex: “Olhai, peixes lá do mar e da terra (...)” (Cap. IV, Sermão de Santo António aos Peixes) “Vê, voador (...)” (Cap.V, Sermão de Santo António aos Peixes) “Peixes, dai muitas graças a Deus (...)” (Cap. VI, Sermão de Santo António aos Peixes)

Comparação
– Figura por meio da qual se confrontam duas realidades distintas para fazer realçar a sua semelhança.

Ex: “O polvo com aquele seu capelo na cabeça parece um monge, com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela (...)” (Cap. V, Sermão de Santo António aos Peixes).

Enumeração
– Apresentação sucessiva de vários elementos (frequentemente da mesma classe gramatical).

Ex: “(...) na terra pescam as varas (...) pescam as ginetas, pescam as bengalas, pescam os bastões (...)” (Cap. III, Sermão de Santo António aos Peixes).

Exclamação
– Figura pela qual se exprimem sentimentos de admiração, espanto, alegria, susto, indignação, sob forma exclamativa.

Ex: “Oh alma de António, que só tivestes asas e voastes sem sem perigo, porque soubestes voar para baixo e não para cima!” (Cap.V, Sermão de Santo António aos Peixes).

Gradação
– Encadeamento de palavras ou ideias numa ordem progressiva (ascendente) ou regressiva (descendente).

Ex: “(...) da boca ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador.” (Cap. III, Sermão de Santo António aos Peixes)
“ Come-o o meirinho, come-o o carcereiro, come-o o escrivão, come-o o solicitador, come-o o advogado (...)” (Cap. IV, Sermão de Santo António aos Peixes).

Hipérbole
- Figura de estilo que consiste na utilização de termos ou expressões que exageram a realidade.

Imagem
- É a representação sensível, animada e colorida da ideia numa palavra, frase ou parte de um texto. A comparação e a metáfora reunidas originam frequentemente imagens vivas e expressivas.

Interrogação
– Pergunta formulada, não para se obter uma resposta, mas para realçar as ideias do discurso.

Ex: “Parece-vos bem isto, peixes?” (Cap. IV, Sermão de Santo António aos Peixes)“Fizera mais Judas?” (Cap.V, Sermão de Santo António aos Peixes).

Metáfora
– Comparação abreviada pela omissão da conjunção comparativa.

Ex: “(...) às águias que são os linces do ar (...) e aos linces, que são as águias da terra (...)” (Cap. III, Sermão de Santo António aos Peixes)

Zeugma
- Omissão de um termo habitualmente referido na frase anterior:
Jasmim na alvura foi, na luz Aurora [foi],
Fonte na graça [foi], rosa no atributo [foi],

A matriz do teste de Dezembro pode ser vista aqui. E já foi enviada para os endereços de correio electrónico de todos os alunos.


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O Barroco

barroco, s. m., estilo próprio das produções artísticas e literárias, que ocorreu aproximadamente entre os fins do séc. XVI e os meados do séc. XVIII, e que se caracteriza pela pompa ornamental, pelo preciosismo decorativo, pelo floreado e pelos conflitos entre o espiritual e o temporal, entre o místico e o terreno; barroca; cova; barranco; pérola de forma irregular.

A palavra "barroco", como a maioria dos períodos ou designações de estilo, foi inventada por críticos posteriores, e não pelos artistas do século XVII e começos do século XVIII. O termo original é português e designa um pérola irregular ou uma jóia falsa.

Actualmente, o termo "barroco" pode ser utilizado para caracterizar de forma pejorativa trabalhos artísticos ou de artesanato excessivamente ornamentados, tal como muitas outras vezes se emprega o termo "bizantino" como referência a tarefas demasiado complexas, excessivamente obscuras ou demasiado confusas.

Na realidade, o barroco exalta valores através da utilização de metáforas e alegorias, frequentes na literatura deste período, e procura maravilhar e causar espanto, tal como no Maneirismo, muitas vezes por meio da utilização de artifícios, sejam eles de linguagem ou pormenores artísticos. Um dos temas privilegiados é o tormento psicológico do Homem, tendo uma boa parte das suas obras seguido a temática religiosa, já que a Igreja Católica Romana era o principal «cliente» dos artistas e eram religiosos muitos dos escritores desta época, nomeadamente no caso da literatura portuguesa.

Os artistas procuravam a virtuosidade com realismo, tendo uma enorme preocupação com os detalhes (há quem se refira à obra barroca como uma complexidade típica).

Las Meninas, de Velazquez. Clique na imagem para saber mais sobre o quadro.

A falta de conteúdo era compensada através das formas, as quais deviam suscitar no espectador, no leitor, no ouvinte, a fantasia e a imaginação. É um momento em que a arte se encontra menos distante de quem dela pode usufruir, aproximando-se do público de maneira mais directa, diminuindo o fosso cultural que afastava a arte do utilizador, o que, por exemplo, acontecia frequentemente nas igrejas construídas nesta época, quando o luxo aí existente permitia a quem as frequentasse a sensação de pertença, de que também o povo podia agora entrar em ambientes recheados de obras artísticas, apreciá-los e deles usufruir.

Na literatura, encontramos o temática do duplo, a queda que precede a morte, o gosto pelo bizarro, uma enorme obsessão com a morte, porventura originária das inúmeras guerras religiosas que por esta altura abundavam em toda a Europa.

São recorrentes tópicos como o medo da morte, a água corrente que significa o tempo que passa, com ligação à morte simbolizada pela água entre os gregos, romanos e celtas, a metáfora das areias movediças, as formas arredondadas como referência às pérolas irregulares, os reflexos, e a alusão a mitos clássicos como o de Narciso e os «mises en abyme», que na literatura podem surgir sob a forma de textos dentro de textos, os quais reproduzem a história principal em histórias secundárias, tal como o fazem os reflexos entre dois espelhos colocados em frente um do outro, podendo surgir, por exemplo, numa peça de teatro em que um dos personagens representa um actor que representa uma personagem, ou um quadro em que um espelho mostra ao espectador um reflexo da cena que podemos ver pintada.

Para saber mais: História da Arte, O barroco e Wikipédia.

Sobre o quadro: aqui.


Música do período barroco (mistura editada de Pachelbel, Bach e Vivaldi):


Sobre a música do período barroco: aqui.

Uma breve e muito reduzida visão cronológica dos principais autores e obras ao longo da história da literatura portuguesa.










Os textos podem ser classificados em três grandes tipos: narrativos, descritivos e expositivos.

No caso que agora nos interessa, irei aqui deixar algumas considerações acerca do texto expositivo-argumentativo.


Argumento é o raciocínio pelo qual, de uma ou mais proposições, se deduz uma conclusão, raciocínio seguido geralmente pelo orador em apoio da sua tese.

Os argumentos oratórios podem ser directos e indirectos. Os directos têm naturalmente conclusão afirmativa da tese sustentada pelo orador, os indirectos, a sua negação. A totalidade dos argumentos directos têm a denominação de confirmação, fortalecendo eles a tese, mas a dos indirectos, a de refutação, contribuindo estes para a rejeição das objecções do adversário.

Os argumentos constituem a parte essencial dum discurso. Todas as outras partes convergem para ele.

Se na demonstração o acento, a tónica, cai na correcção do raciocínio, na argumentação o elemento principal constitui a eficiência desta perante o auditório, cuja adesão à tese sustentada no discurso é seguida pelo orador.



Aristóteles definiu a argumentação como a «arte de falar de modo a convencer».
Ora, toda a arte tem normas e querer fazer o uso de qualquer arte implica o domínio das suas técnicas. E a arte da argumentação obedece a um trabalho rigoroso que prevê várias etapas: escolher o problema, procurar os argumentos e os contra-argumentos, dispô-los adequadamente, construir um discurso convincente, formular juízos de valor.

E se o discurso argumentativo tem o objectivo de usar bem a palavra para convencer, deve procurar cumprir alguns requisitos fundamentais como a clareza, o rigor, a objectividade, a coerência, a sequência lógica e a riqueza lexical.

Assim, sendo mais práticos, para se elaborar um texto argumentativo, dever-se-á:

– começar por uma introdução em que se apresenta o problema que vai ser objecto do discurso (que ocupa, normalmente, um parágrafo);
– em seguida, construir o desenvolvimento, em que se expõem os argumentos e os contra-argumentos fundamentados com exemplos (o desenvolvimento compreende, pelo menos, dois parágrafos – um para os argumentos e outro para os contra-argumentos);
– para finalizar, a conclusão (de um parágrafo) que deve retomar a afirmação feita na introdução, agora já confirmada ou contrariada.



É importante não descurar a sequência lógica que se pretende que haja entre os parágrafos, implicando que se esteja atento ao seu encadeamento, o que se consegue com a utilização de articuladores de discurso ou de conectores (causa-efeito-consequência, hipótese-solução).