domingo, 19 de abril de 2009


A poesia de Cesário

Le bar des Folies bergères, de Manet“(…) A sua poesia é a dum artista plástico, enamorado do concreto, que deambula pela cidade ou pelo campo e descreve de modo vivo, exacto, as suas experiências. Esta «objectividade» antilírica da sua obra poética não impede todavia a expressão, embora discreta, de ideias e sentimentos que definem o homem situado: o amor da actividade útil, saudável; o respeito pela ciência positiva do seu tempo; a confiança no progresso; a solidariedade com os humildes, vítimas das injustiças sociais. Nos versos do Conde de Monsarás, seu amigo, aplaude «o protesto franco e salutar em favor do povo». E, quando exalta o trabalhador, símbolo da energia indomável do povo, os seus versos ganham, excepcionalmente, um movimento oratório:


«Povo! No pano cru rasgado das camisas.
Uma bandeira penso que transluz!
Com ela sofres, bebes, agonizas:
Listrões de vinho lançam-lhe divisas,
E os suspensórios traçam-lhe uma cruz!»
(in «Cristalizações»).


O contraste entre o egoísmo dos ricos e a miséria dos pobres é o tema que fica em suspenso no último poema de Cesário Verde, deixado incompleto («Provincianas»).
Muitas vezes, aliás, o poeta refere a si próprio, espectador, imagens e sensações, e a «objectividade» plástica alterna, em vários passos, com a fuga imaginativa. Se é «realista» o vocabulário do poeta, cheio de termos concretos, alguns deles técnicos ou da linguagem familiar («biscate», «salmejo», «valador», «amoniacal», «batatal», etc.); se é analítica a sua frase, feita de notações justapostas, com séries de adjectivos que procuram cingir os contornos e o poder sugestivo das coisas («Sobre os teus pés decentes, verdadeiros, / As saias curtas, frescas, engomadas»); se, mais ainda, num esforço renovador, paralelo ao que Eça de Queirós leva a bom termo na prosa, Cesário tira partido de processos vincadamente impressionistas, fazendo avultar a sensação inicial, só depois referida ao objecto («Amareladamente, os cães parecem lobos») ou combinando sensações e misturando o físico e o moral («Ombros em pé, medrosa e fina, de luneta! »); noutros casos assistimos, na poesia de Cesário Verde, ao jogo do «real» e do «irreal»: os estímulos da circunstância fazem evocar o ausente (os calafates lembram ao poeta «crónicas navais», «soberbas naus» que ele nunca verá; as varinas «embalam nas canastras / os filhos que depois naufragam nas tormentas») ou vem a imaginação transfigurar as coisas vistas, transformar, de noite, as lojas iluminadas em «filas de capelas» duma enorme catedral, etc. Por breves momentos, é certo, porque logo o poeta tem de regressar à esfera sensorial, à «realidade» comum. E Cesário, artista muito lúcido, com invulgar consciência crítica (nisto reside, em parte, a modernidade que o torna um admirável precursor), não deixa de comandar, de organizar estas alternativas. (…)”


“Os ensaístas que, com mais penetração, se têm ocupado de Cesário (David Mourão-Ferreira, Joel Serrão) interessaram-se, de preferência, pelo binómio campo-cidade na obra do negociante-poeta. Sob o signo de Baudelaire, Cesário Verde deixa-se algum tempo conquistar pelas seduções da urbe; traça «quadros revoltados», medita «um livro que exacerbe», queixa-se de tédio, diz amar «insensatamente os ácidos, os gumes / E os ângulos agudos». Tem a nostalgia dos grandes centros: «Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo! » Torna-se o poeta por excelência de Lisboa, cuja figura multifacetada descobrimos, inteira, em poemas como «Num Bairro Moderno» e «O Sentimento dum Ocidental» - desde a paisagem física (a Baixa pombalina, as ruelas junto ao rio, os bairros novos, de ruas amplas, macadamizadas) à paisagem humana (padres, militares, altos funcionários, burguesas e «imorais», padeiros, vendedeiras de hortaliça, varinas, operários, calceteiros, arlequins e mendigos), sem esquecer as metamorfoses do ciclo das horas (a Lisboa nocturna, com a sociedade elegante, misérias e grotescos à luz débil do gás, e a cidade soalhenta, garrida, laboriosa) e a situação geográfica (os cais, os emigrantes, a ânsia do mar desconhecido, as tradições dos Descobrimentos). Mas já quando percorre a cidade o poeta deixa entrever o desejo de espaços mais amplos, dum ar mais puro, duma vida mais sã. (...)”


Jacinto do Prado Coelho, Dicionário de Literatura, 3ª edição, Porto, Figueirinhas Ed., 1985 (Volume 4)


O almoço dos remadores, de Renoir

“(...) Cesário Verde é o único poeta do grupo tido como realista que consegue superar, de facto, a herança romântica. Em poemas como De Tarde, Nós, Contrariedades, Cristalizações, O Sentimento de um Ocidental, não se nos deparam os vagos operários e prostitutas do progressismo verboso de certos contemporâneos, nem o oco pessoalismo ultra-romântico. Ele é o poeta cuja neurastenia se retrata e ironiza num quarto real, à vista do drama concreto dos vizinhos; que, perceptivelmente, deambula e namora em Lisboa, ou examina o campo com o olhar penetrante de proprietário rural. Assim tudo ganha volume: o sonho não diminui a vida: alimenta-se dela e a ela volta, a tonificar-se («Lavo, refresco, limpo os meus sentidos / E tangem-me excitados, sacudidos, / O tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o olfacto»).


Esse poeta, quase sem precedentes nem continuadores entre nós, assimilando organicamente o que aprendeu de Baudelaire e Coppée, descobre a beleza enérgica, a «riqueza, química do sangue» dos operários «enfarruscados e secos» dos arsenais, ou de um «cardume negro» de varinas, ou do tinir no granito do aço dos calceteiros, e de toda a utensilagem dos ofícios manuais; vibra em simpatia com toda uma cidade viva, por vezes num «desejo absurdo de sofrer»: com o enjoo do gás extravasado, o chorar dos pianos das burguesinhas, o arrepio de um «Dezembro enérgico e sucinto», com o sol espelhado nas poças da chuva recente, as trindades, os passos da patrulha, o toque das grades nas cadeias, os clarões das lojas nas naves das ruas, uma hortaliceira regateando para o pão, uma engomadeira tuberculizando e sem ceia, os focos infecciosos da febre amarela.


Para exprimir este mundo, até então realmente desconhecido da poesia (...) Cesário renovou completamente a estilística tradicional da nossa poesia. Experimentou uma imaginária por vezes muito feliz. Introduziu no verso o processo queirosiano de suprir pelo adjectivo ou pelo advérbio uma relação lógica extensa, de imediatizar, pela surpresa da relação verbal, uma sugestão que morreria se se desdobrasse logicamente: «quando passas, aromática e normal»; «cheiro salutar e honesto ao pão no forno»; «pés decentes, verdadeiros»; «eu tudo encontro alegremente exacto»; «amareladamente, os cães parecem lobos»; etc. A par disto, Cesário consegue valorizar poeticamente o vocabulário e o tom de fala mais correntios na linguagem coloquial urbana, embalando o leitor num ritmo que ondula entre a atenção ao pormenor e um abrir de horizontes, entre a sátira ou a degradação, que nos oprimem, e um relance de beleza real, que nos expande.
As citações já feitas exemplificam bem o sopro renovador da sua sensibilidade, quaisquer que sejam os grumos de prosaísmo ainda por diluir nas poesias da sua maturidade, datável de cerca de 1877. Os «delírios mornos», as notações convencionalmente neuróticas ou depravadas, os excessos metafóricos de encarecimento sensual, certas margens de sátira demasiado crispada não condizem com o seu mais radicado sentir. Mas seria errado ver apenas Cesário Verde como ele frequentemente queria ver-se nos textos mais citados da sua obra, prematuramente interrompida pela morte aos 31 anos. O recorte voluntariamente britânico, «hábil, prático, viril», masculamente protector das feminilidades frágeis, com que se apresentava em pessoa, e muitas vezes em verso, o seu intermitente prosaísmo, que ama «a claridade, a robustez, a acção» não devem fazer esquecer outras facetas de uma afectividade por vezes finíssima. De outro modo, em sensibilidade sadia mas complexa, Cesário poderia confundir-se com a saúde mais banal do seu amigo, também poeta realista, Macedo Papança, mais tarde conde de Monsaraz, a quem de resto são endereçadas algumas cartas suas com deliciosos textos em prosa do mesmo estilo.


A coragem de assumir atitudes tidas como prosaicas não deixa de consentir muitos momentos frouxos, mas o que melhor distingue Cesário é o dom de chegar a percepções surpreendentes como estas: «Um parafuso cai nas lajes, às escuras», pormenor que só por si denuncia o fundo acústico rarefeito da cidade anoitecida e despovoada; «e os olhos de um caleche espantam-se sangrentos»; «e o sol estende, pelas frontarias / seus raios de laranja destilada» (…). Por outro lado, (...) ganha dimensões históricas: o poeta adivinha nas burguesinhas solteiras que tocam piano o mesmo histerismo das antigas freiras, também condenadas a uma estéril vida solteira por falta de noivos socialmente idóneos; de vez em quando dá a sentir, nas sombras de um templo ou dos arruamentos estreitos, o peso secular de tradições clericais redivivas; e os seus calceteiros talvez se inspirem nos de um célebre quadro de Courbet, mas denunciam, como em geral os seus operários urbanos e a própria paisagem ainda suburbana, as origens rurais de que a Capital estava ainda a surgir (…)”


António José Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa, 8ª edição, Porto Editora, 1975




Ensaio de Ballet, de Degas“Cesário é o poeta que, mal compreendido na sua época, irá exercer uma forte influência relativamente ao desenvolvimento da nossa poesia no sentido de uma modernidade que, mais tarde, a geração de Orpheu reconhecerá. (…) A crítica tem chamado a atenção para o facto de haver nessa poesia uma capacidade para visualizar e analisar através de uma especial percepção a realidade, afirmando-se, assim, na sequência dos movimentos naturalista e realista ficcionais, o que não impede de nela se desenhar também uma dimensão simbólica e transfiguradora. Cesário Verde teve a consciência da intenção que o animava ao projectar na sua poesia certos efeitos do real, intencionalmente perseguidos, como testemunha em vários passos: «Eu que medito um livro que exacerbe / quisera que o real e a análise mo dessem»; «eu tudo encontro alegremente exacto»; «o ritmo do vivo e do real». No entanto, este ritmo a que alude ganha um envolvimento complexo que deriva de um conjunto de desenvolvimentos verbais ou registos que lhe são próprios, os quais muito têm a ver com a organização sonora do verso, a sua disposição estrófica que lhe dá um contorno especialmente modelado (não se detendo em enjambements insólitos como este: «E saio. A noite pesa, esmaga. Nos / passeios de lajedo arrastam-se as impuras») e um sentido de coesão que deriva de sequências que representam uma articulação metonímica apoiada por um desenvolvimento descritivo (ou, até, aditivo como ocorre, explicitamente, no início desta passagem: «E mais: as costureiras, as floristas / descem dos magasins»).


A contiguidade textual desempenha um papel importante na poesia de Cesário Verde, como se pode ver no recurso ao assíndeto, o qual ganha uma dimensão especial se estivermos atentos à maneira como se sujeita ao ritmo escandido do verso, ganhando as notações justapostas uma movimentação entonacional harmoniosa. É o que se pode apreender neste verso: "as virações, o rio, os astros, a paisagem", ou no modo como se faz da melhor maneira, sob o ponto de vista rítmico, a enumeração dos cinco sentidos: «o tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o olfacto!». (...) Cesário Verde recorre apropriadamente à metaforização ou, até, a formas de comparação que não raro se tornam transfiguradoras pelo modo como aí convergem imagens compósitas ou palavras com registos semânticos diferentes. A hipálage - processo de adjectivar que é exemplarmente usado por Eça de Queirós - será um dos momentos retoricamente mais marcados de tal convergência, como se pode ver em casos deste tipo: «um cheiro salutar e honesto a pão no forno».


(...) Outra aspecto importante na poesia de Cesário Verde diz respeito ao papel que nela desempenha o eu. Se a referência ao eu é recorrente, nem por isso a confessionalidade é uma das características a ter em conta. Trata-se de um eu-personagem ou de um eu-reminiscente que não conduz em directo a uma identificaçâo autobiográfica, na medida em que surge como instância do próprio texto. (...) O que importa salientar é que tudo isto implica uma autocorrecçâo emocional da própria expressão poética, a qual poderá ser antecipada por uma figuração irónica (...). No entanto, a ironia ou a capacidade transfiguradora que nela existe pode ganhar em Cesário Verde efeitos expressivamente mais válidos e que não estão de todo ausentes quando se consideram certas dominantes sémicas que se articulam entre si, criando um conjunto de descrições contrastantes sobretudo pelos valores positivo ou negativo de que parecem estar revestidas (e é, por vezes, ironicamente que esses valores se podem relativizar), os quais dizem respeito ao que vários críticos têm designado como sendo o contraste com que na obra de Cesário Verde se descreve o campo e a cidade, a «dama fatal» e a mulher doce, amorável e fraterna - isto é, a «débil» vista idealmente - ou o próprio sentido de vida e o sentido da morte.


O contraste ou binómio campo-cidade foi especialmente posto em destaque por David Mourão-Ferreira e Joel Serrão. (...) Vimos atrás que o uso recorrente da primeira pessoa - consequentemente desprovido de uma «emoção psicológica e íntima» - faz com que o eu seja apenas o narrador do poema, o que lhe empresta, por vezes, um tom coloquial que (...) ganha inflexões que moldam de um modo particularmente significativo a sua poesia: o expletivo, o reticente, o parentético, o uso de frases nominais, a linguagem familiar (através de palavras como «biscate», «ateimar», etc.) ou de extracção mais snob (utilização repetida de termos franceses ou ingleses).


O que há de inovador em muitos destes aspectos contribuiu para que a sua poesia tivesse uma má recepção inicial (...). Outro ponto de vista crítico que se generalizou decorre do facto de se considerar o poeta como um representante da «ideologia da pequena burguesia mercantil e trabalhadora», ou como um autor de poemas que são «uma crítica objectiva e um julgamento subjectivo da sociedade contemporânea», isto é, das «circunstâncias sociais injustas». Cabral Martins, pegando na ideia de justiça - e reforçando-a com esta afirmação de Cesário Verde numa carta para Silva Pinto: «o que eu desejo é aliar ao lirismo a ideia de justiça» -, prefere entendê-la de acordo com um sentido que se aproxima mais do de justeza, a qual estaria dependente sobretudo de uma «poética da exactidão». Outra questão, que, como a anterior, é de certo modo aleatória, consiste no paralelismo que se estabeleceria entre a poesia de Cesário Verde - cujo carácter visualista ele próprio reconhece: «pinto quadros por letras, por sinais» - e as artes plásticas, nomeadamente a possível referência Les Casseurs de Pierre, de Courbetao quadro de Courbet Les casseurs de pierre, que duvidosamente se poderia relacionar com «Cristalizações», às tendências impressionistas (ou, se se fizer uma aproximação mais adequada, a pintura do chamado Grupo do Leão.”


in Dicionário de Literatura Portuguesa, org. e dir. de Álvaro Manuel Machado, Lisboa, Ed. Presença, 1996

A nível temático:
repórter do quotidiano - «pintor» de ambientes; o deambulismo origina a associação entre as impressões transmitidas pelo real exterior e as reflexões do poeta.
binómio cidade/campo - a cidade é conotada com a doença e com a morte; o campo surge como um espaço de energia e de força vital, como fonte de vida e de refúgio.
crítica social - denúncia da oposição entre a vida egoísta daqueles que são social e eco­nomicamente favorecidos e a miséria que condena os pobres.

A nível estilístico:
- defesa de uma estética anti-romântica
- precisão na construção da estrofe e do verso (verso decassilábico e alexandrino - dez e doze sílabas métricas, respectivamente)
- tradução plástica da realidade
- exactidão vocabular
- coexistência de registos de língua (literário, corrente e familiar)
- dupla e tripla adjectivação
- utilização estilística do diminutivo
- recurso à ironia
- impressionismo (captação do real através de impressões - cor, luz, forma, movimento)
- antecipação do surrealismo - imaginação transformadora do real

Nascido José Joaquim Cesário Verde, e filho de um comerciante que possuía uma loja de ferragens em Lisboa e uma quinta em Linda-a-Pastora, Cesário Verde passa a infância entre o espaço citadino e o espaço rural, binómio que será marcante na sua obra.

Em 1873, matricula-se no Curso Superior de Letras, que abandonará pouco depois, mas onde trava conhecimento com algumas figuras da vida literária de Oitocentos, como Silva Pinto, que se tornará seu grande amigo.

Durante a juventude, tem a oportunidade de viajar pelos grandes centros cosmopolitas europeus (Paris e Londres), na qualidade de correspondente comercial da loja do seu pai, e deixa vários poemas dispersos por jornais e revistas, como o Diário de Notícias, o Diário da Tarde, Novidades, A Harpa, Tribuna, Mosaico, A Evolução, Ocidente, Renascença, A Ilustração ou o Jornal de Viagens, acolhidos com apreciações críticas quase sempre desfavoráveis (Ramalho Ortigão, Fialho de Almeida, Teófilo Braga) ou simplesmente ignorados.

Em 1874, aparece anunciada a edição para breve de um livro de Cesário Verde, intitulado Cânticos do Realismo, o que, porém, não sucederia. A partir de 1879, desiludido com a incompreensão do mundo intelectual ("A crítica segundo o método de Taine / Ignoram-na."; "A imprensa / Vale um desdém solene", de "Contrariedades"), Cesário dedica-se cada vez mais a assistir o pai na loja de ferragens e na exploração da quinta.

Em 1882, morre-lhe um irmão, de tuberculose, tal como a irmã, morta dez anos antes. Aos 31 anos, ele próprio morre, vítima da mesma doença. Em 1887, Silva Pinto publica a primeira edição, limitada, de O Livro de Cesário Verde, destinada a ofertas a amigos do escritor. Só em 1901 é dada à estampa uma segunda edição, já distribuída pelas livrarias.

A poesia de Cesário Verde é prefiguradora de uma modernidade estética só inteiramente reconhecida no século XX. Como afirmou Joel Serrão, "a leitura e o estudo dos testemunhos dos conviventes de Cesário dados a público aquando da morte do poeta provam que ninguém, ninguém mesmo, entendera a excepcional qualidade da poesia que o poeta negociante legara ao sempre incerto futuro", e dificilmente cabe nas classificações da história literária.

Com efeito, se a representação pictórica dos ambientes e a descrição plástica da realidade, alicerçada em notações sensoriais
Chegam do gigo emanações sadias,
Oiço um canário - que infantil chilrada! -
Lidam ménages entre as gelosias.
E o sol estende, pelas frontarias,
Seus raios de laranja destilada.

(de "Num bairro moderno"),
o aproximam do Realismo, do Parnasianismo e até do Naturalismo em poesia, mediante a busca do célebre livro baseado no "real" e na "análise"; se o interesse votado aos fracos e humildes ecoa ainda influências do Romantismo social , como podemos ver em:
Ele ia numa maca, em ânsias, contrafeito,
Soltando fundos ais e trémulos queixumes;
Caíra dum andaime e dera com o peito.
Pesada e secamente, em cima duns tapumes

(de "Desastre")
ou em:
Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.

(de "Contrariedades),
não é menos verdade que a imaginação e o trabalho do poeta conduzem quase sempre a uma recriação impressionista ou fantasista da realidade.

Algumas das características principais na escrita de Cesário Verde são: um vocabulário objectivo; imagens extremamente visuais de modo a dar uma dimensão realista do mundo (daí poeta pintor); o pormenor descritivo; a mistura do físico e do moral; a combinação de sensações; o uso de sinestesias, metáforas, comparações; o emprego de dois ou mais adjectivos a qualificar o mesmo substantivo; a utilização de quadras, em versos decassilábicos ou alexandrinos; a utilização do “enjambement”.

Dados biobibliográficos
Data e local de nascimento:
25 de Fevereiro de 1855, em Lisboa.
Data e local de morte:
19 de Julho de 1886, em Lisboa.
Outras obras editadas:
Obra Completa de Cesário Verde, 1964; Obra Poética e Epistolografia, 1999; O Sentimento dum Ocidental, 2003.

sábado, 18 de abril de 2009

Existem Normas Portuguesas para a elaboração de referências bibliográficas. Cumprir estas normas significa uniformidade e uma maior facilidade de compreensão do que é referenciado. Para além destas Normas existem também Normas Estrangeiras.

No caso de Portugal, deveremos seguir a Norma Portuguesa NP 405-1, a qual também se refere às citações.

Quando elaborares os teus trabalhos escolares, deves incluir sempre os dados sobre todo o material utilizado para desenvolver a pesquisa, incluindo os sites da Internet. Esses dados constituem a Bibliografia do teu trabalho, isto é, a lista das referências bibliográficas, ou conjunto de elementos que descrevem os documentos consultados, de modo a permitir a sua identificação.

Normas Portuguesas


- Determinam uma ordem obrigatória para os elementos da referência;
- Estabelecem as regras para a transcrição e apresentação da informação, contida nas fontes da publicação a referenciar e para a apresentação de bibliografias e citações bibliográficas.
Nota: Os elementos a utilizar na referência bibliográfica são retirados, em geral, do próprio documento e de preferência da página de rosto. Sempre que tais elementos não constem da página de rosto deve-se recorrer ao colofão, capa, lombada, prefácio, etc. Nesse caso a informação deverá ser apresentada entre parênteses recto.

NP 405-1 – Referências bibliográficas de documentos impressos - Especifica os elementos relativos a:


· monografias;
· publicações em série;
· séries monográficas;
· teses, dissertações;
· normas;
· patentes;
· música impressa;
· resumos.

NP 405-2 – Materiais não-livro - Especifica os elementos das referências bibliográficas relativas a:


· documentos icónicos;
· filmes;
· multimédia;
· registos vídeo;
· registos sonoros;
· objectos;
· projecções visuais.

NP 405-3 – Documentos não publicados


Geralmente refere-se aos documentos de tiragem reduzida que não foram integrados num circuito formal de distribuição. Especifica os elementos relativos a documentos impressos de tipologia variada (monografias, publicações em série, cartas, Ofícios, circulares), manuscritos, música impressa, materiais cartográficos, materiais não -livro. Esta Norma deverá ser sempre utilizada juntamente com a NP 405-1 e NP 405-2.


NP 405-4 – Documentos electrónicos - Especifica os elementos relativos a:

· monografias;
· bases de dados;
· programas;
· partes e contribuições desses documentos;
· publicações em série; artigos e outras publicações.

Alguns conceitos
Referência Bibliográfica - Conjunto de elementos bibliográficos que identificam uma publicação ou parte dela;

Bibliografia – Documento secundário que apresenta uma lista de referências bibliográficas segundo uma ordem específica e que contém elementos descritivos de documentos, que permitem a sua identificação;

Citação – Forma breve de referência colocada entre parênteses no interior do texto ou anexada ao texto como nota em pé de página, no fim do capítulo ou do texto.

Seguidamente iremos ver algumas das regras a que nos referimos acima.


PARA LIVROS
Ordem dos elementos e pontuação:
AUTOR(es) – Título : subtítulo (destacado). Edição. Local de edição : Editor, ano. ISBN (se estiver presente a referência ao mesmo no livro, geralmente na contra-capa, ou na ficha técnica).

Com um autor

TOLKIEN, J. R. R. - A irmandade do anel. In "O senhor dos anéis". 13.ª ed. Mem Martins : Europa-América, 2002. ISBN 972-1-04102-5. vol. 1.

Com dois autores

ELKINGTON, John ; HAILES, Júlia – Guia do jovem consumidor ecológico. Lisboa : Gradiva, 1992. ISBN 972-662-230-1.

Com três autores

GORDON, V. O. ; IVANOV, Yu. B. ; SOLNTSEVA, T. E. – Problemas de geometria descriptiva. 2ª ed. Moscovo : Editorial Mir, 1980.

Com quatro ou mais autores

NOBRE, António, [et al.]– Biologia funcional. Coimbra : Almedina, 1984.

Nota: Nestes casos, referimos só o primeiro autor, ou o que tiver maior destaque, seguido da abreviatura da expressão latina et alii. [et al.], que significa “e outros”.

Para livros traduzidos
JACOB, François – O ratinho, a mosca e o homem; trad. Margarida Sérvulo Correia. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 1997. ISBN 972-662-567-X.
Para dicionário com autor expresso
COELHO, Jacinto do Prado – Dicionário de literatura : literatura portuguesa… 4ª ed. Porto : Figueirinhas, 1989. 4 vol.
FALCÓN MARTÍNEZ, Constantino - Dicionário de mitologia clássica . 1ª ed. Lisboa : Presença, 1997. ISBN 972-23-2219-2.

Nota: O apelido dos autores espanhóis é constituído pelos dois últimos nomes.
Para dicionários sem autor expresso
DICIONÁRIO da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2004. ISBN 972-0-01125-4.
Para enciclopédias com autor expresso
GISPERT, Carlos, dir. - Enciclopédia da psicologia. Lisboa : Liarte, 1999. 4 Vol. ISBN 972-8528-27-2.
Para enciclopédias sem autor expresso
O ROSTO humano na arte. Lisboa : Publicações Alfa, 1972.
Obras em volumes (se consultámos apenas um volume)
COELHO, Jacinto do Prado – Dicionário de literatura : literatura portuguesa… 4ª ed. Porto : Figueirinhas, 1989. Vol. 2.
Para capítulos ou artigos retirados de livros
Ordem dos elementos e pontuação:

a) autor diferente do autor do livro no todo

Autor do cap. – Título do cap. In Autor do livro – Título: subtítulo. Edição. Local de edição : Editor, ano. ISBN. Páginas (inicial e final do capítulo).
PEREIRA, Maria Helena da Rocha - O Jardim das Hespérides. In CENTENO, Yvette Kace, coord. ; FREITAS, Lima de, coord. - A simbólica do espaço. 1ª ed. Lisboa : Editorial Estampa, 1991. ISBN 972-33-0781-2. p. 17-28.

b) o autor do capítulo é o autor do livro no todo

STRUIK, Dirk J. – História concisa das Matemáticas; trad. João Cosme Santos Guerreiro. 3ª ed. Lisboa : Gradiva, 1997. ISBN 972-662-251-4. p. 29-44.

ARTIGOS EM PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS
Ordem dos elementos e pontuação:
AUTOR do art. – Título do art. Título da publicação periódica. ISSN. Volume, Número, (data), Páginas.
Para revistas
FIGUEIREDO, M. O. - Factores de estabilidade estrutural associados ao arranjo dos catiões nas estruturas dos compostos iónicos. Revista Portuguesa de Química. Lisboa. ISSN 0035-0419. Vol. 23, n.º 4 (1981), p. 250-256.
Para jornais
SANTOS, Ana Isabel – E quando o tempo pára... e o futuro se torna o presente. Olhares. Nº 9 (Jun. 2006), p 8.
SANTOS, Carlos – Escola a tempo inteiro passa rasteira aos pais. Diário de Coimbra. Ano 76º, Nº 25.679 (15 Set.2006), p. 6.

REFERÊNCIA A DOCUMENTOS LEGISLATIVOS
Exemplos:
DESPACHO normativo nº 1/2006. D.R. I Série-B. Nº 5 (6-Jan-2006), p.156-160.
DECRETO-LEI nº 27/2006. D.R. I Série-A Nº30 (10 Fev. 2006). P1095-1099.

FILMES, DOCUMENTÁRIOS... EM VÍDEO, DVD OU CD-ROM
Ordem dos elementos e pontuação:
Realizador. – Título. Local da distribuição : distribuidor, data. Descrição física.
Filmes com autor expresso
PINTO, Armando Vieira - Fado. Lisboa : Lusomundo, cop. 1947. 1 cassete vídeo (VHS) (110 min.).

Nota: Quando não figura o local de distribuição, mas sabemos qual é esse local através de fontes externas ao documento (pesquisa na Internet, por exemplo), inserimo-lo dentro de parênteses rectos.
Filmes sem autor expresso
A RESISTÊNCIA timorense em documentos. .[Lisboa]: Fundação Mário Soares, Fado Filmes, Visão, 2002. (CD-ROM).

DOCUMENTOS ELECTRÓNICOS
Ordem dos elementos e pontuação:

AUTOR. – Título : subtítulo (se houver). Edição. Local : editor, data, data de actualização. [Data de consulta] Disponibilidade e acesso.

Exemplos

RODRIGUES, Eloy – Implementação de um sistema integrado de gestão de bibliotecas: a experiência da Universidade do Minho. Braga : Universidade do Minho, 2004. [Consult. 10 Set. 2004]. Disponível na Internet: http://repositorium.sdum.uminho.pt/

COMO SE TRANSMITE O VIH? Lisboa : Comissão Nacional de Luta contra a SIDA, 2004. [Consult. 10 Jan. 2005]. Disponível na Internet: http:/www.sida.pt/.

Convém que te lembres de que:

· Os elementos das referências bibliográficas são retirados dos próprios documentos.

· Deves alinhar as referências à esquerda, em espaço simples e separadas entre si por espaço duplo.

· A Bibliografia é ordenada alfabeticamente.

Pode ser encontrada mais informação sobre este assunto nos Serviços de Documentação da Universidade do Minho.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Dois concursos

UM LIVRO NUMA FOTO



A Direcção-Geral dos Livros e das Bibliotecas (DGLB), do Ministério da Cultura, promove um concurso/passatempo, em que os alunos do 3º ciclo e do ensino secundário podem participar.

No primeiro caso, trata-se de tirar uma fotografia no dia 23 de Abril que retrate uma situação de leitura ou que esteja relacionada com livros.

Essa fotografia deverá ser acompanhada de uma legenda, com o máximo de 2º palavras.

Depois, a fotografia e a legenda deverão ser enviados por correio electrónico para o seguinte endereço: dsl@dglb.pt

Na mensagem terá que constar o nome do aluno, a sua morada e o seu contacto telefónico, bem como o nome da escola que frequenta.

Se na fotografia aparecerem pessoas, o concorrente terá que garantir que a publicação da fotografia dessas pessoas está autorizada por elas.

A data limite para envio dos trabalhos é 15 de Maio de 2009.

O júri escolherá as 15 melhores fotografias, que serão divulgadas no site da DGLB.

Todos os concorrentes seleccionados receberão livros.

Se não houver a possibilidade de enviar por correio electrónico, a fotografia e o documento com a legenda, a identificação do concorrente e outros dados eventuais (a autorização acima referida, se for o caso) poderão ser enviados para o seguinte endereço:

Direcção de Serviços do Livro
Direcção-Geral dos Livros e das Bibliotecas
Campo Grande, 83 – 1º
1700-088 Lisboa

O regulamento integral pode ser consultado aqui.




TORNEIO POÉTICO



A Direcção-Geral dos Livros e das Bibliotecas (DGLB), do Ministério da Cultura, está a promover um concurso, no âmbito do Dia Mundial da Poesia (21 de Março) e do Dia Mundial do Livro (23 de Abril) e do Ano Europeu da Criatividade e Inovação, sobre os poetas António Botto e Jorge de Sena.

Podem participar todos os estudantes do 3º ciclo (integrados na Categoria A) e do ensino secundário (integrados na Categoria B).

Os trabalhos devem ser entregues na Biblioteca Escolar ou na Biblioteca Municipal da área de residência dos alunos até ao dia 15 de Maio de 2009.

Os trabalhos a concurso podem ser um desenvolvimento, em verso ou em prosa de ficção, num máximo de duas páginas A4, de uma das estrofes de António Botto ou de Jorge de Sena, abaixo transcritas:



Afirmam que a vida é breve,
Engano – a vida é comprida:
Cabe nela amor eterno
E ainda sobeja vida.

(in António Botto, Pequenas Esculturas, 1925)


Anda um ai na minha vida
Que me lembra a cada passo
A distância que separa
O que eu digo do que eu faço.

(in António Botto, Dandismo, 1928)


Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla…em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
[…]

(in Jorge de Sena, «Uma Pequenina Luz», Fidelidade, 1958)


Amo-te muito, meu amor, e tanto
Que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
Depois de ter-te, meu amor. Não finda
Com o próprio amor o amor do teu encanto.
[…]

(in Jorge de Sena, «Soneto VIII», As Evidências, 1955)


Os trabalhos serão apreciados por um júri, sendo seleccionados três trabalhos (1º, 2º e 3º), tendo em consideração o bom domínio da língua portuguesa, tanto a nível gramatical como dos seus recursos expressivos, uma boa exposição e articulação das ideias, e o conhecimento da obra os poetas seleccionados.

Os prémios serão conjuntos de livros e os trabalhos premiados serão publicados no site da DGLB.

As bibliotecas que receberem os trabalhos deverão enviá-los até ao dia 30 de Maio.

O regulamento integral pode ser consultado aqui.


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Olá. As avaliações do 2º período podem ser vistas através da ligação abaixo.

11º B

Boas férias. E leiam muito ;-)